o elogio

Não tinha estado bem durante todo o dia. Tinha sido mais um dia daqueles! Cortou o cabelo sozinha, com a ajuda do google. Até que tinha ficado bom... Estava agindo no automático, tentando preencher o apartamento vazio com músicas, tentando esquecer que não o veria e o porquê de não vê-lo naquele dia.
Na hora em que ele ligou seu coração deu um pulo! Como era maravilhoso ouvir sua voz... Disse que queria lhe ver. Ia trabalhar naquela noite, mas não iria antes de lhe dar um abraço, queria ficar um pouco com a sua menina. Ela ficou completamente surpresa!
Colocou uma roupa velha, calça jeans surrada e blusa preta, era a que tinha ficado menos feia. Prendeu metade do cabelo num rabo de cavalo e usou o melhor perfume. Não queria que ele percebesse que estava triste. Tanta coisa em tão pouco tempo... Ainda estava meio zonza.
Entrou no carro. Nervosa. Esboçou um sorriso e abraçou-o enquanto desejava-lhe uma boa noite. Ele, por sua vez, olhou bem dentro dos seus olhos reconhecendo, lá no fundo deles, a imagem de uma criança...
- Você está linda! - falou sem demora.
Ela sorriu... Só podia estar brincando. Disse a ele que era mentira, que estava usando uma roupa velha e que o cabelo estava assanhado. Mas ele tinha dito a verdade, ela realmente estava linda, tinha se arrumado pra ele, só pra ele e só isso bastava.
Ele ficou com raiva, triste por ela não ter acreditado no seu elogio. Ela, sem saber o que fazer, nunca tinha ouvido um elogio tão sincero. Ele não havia entendido seus motivos, relembrou essa por muitas e muitas noites seguintes, sempre com tristeza. Da memória dela, esse momento jamais saiu...
Ele já tinha o seu amor e, naquele momento, ela lhe deu também seu coração e sua alma. Até hoje ela conta com tristeza essa história e sempre termina com a mesma frase: "há muito tempo eu entreguei meu coração, desde então, nunca mais o recuperei".

"Quanta bobagem tudo que se falou
me olho no espelho
e já nem sei mais quem sou
Quanto talento pra discutir em vão
será tão frágil nossa ligação?
Não tem que ser assim
tanto desencontro, mágoa e dor
pra quê que a gente tem que se arriscar?"
Estranho Jeito de Amar